sábado, 28 de setembro de 2013

A Censura!


A nossa sociedade autoriza tudo o que não a incomoda. Se isto já não é plenamente verdade nos nossos dias, e se estamos em crise, é porque o interesse imediato dos que estão no poder se encontra em contradição com os valores que fundamentam este mesmo poder. É necessário, por exemplo, incentivar o consumo que os enriquece, em detrimento da moral que os legitima. Pela primeira vez, o poder fundamenta-se na confusão e não na ordem. Daí a mentira generalizada, de que a língua sofre. 



A permissividade atual autoriza que se diga tudo porque este tudo já não significa nada. A palavra torna-se inofensiva por privação de sentido. A escrita sofre a mesma privação nas suas formas normalizadas: publicidade, jornalismo, best-sellers, que passam por escrita quando não o são. 

O objetivo da antiga censura consistia em tornar o adversário inofensivo, privando-o dos seus meios de expressão; a nova - que denominei censura - esvazia a expressão para a tornar inofensiva, método mais radical e menos visível. 

Bernard Noel, in 'O Castelo da Ceia (posfácio/carta)'



segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um abismo chamado Brasil ...

Hoje tive a oportunidade de acompanhar o meu filho, que participa de um campeonato de basquete entre escolas públicas e privadas que acontece aqui em Florianópolis e pude visualizar o grande abismo chamado Brasil.

Os jogos ocorreram numa escola pública aqui do bairro, confesso que fiquei surpreso com o ginásio da escola, novo, espaçoso, conservado, mas a surpresa positiva acaba por aí. O primeiro jogo não ocorreu, pois uma das escolas públicas, não conseguiu chegar porque o transporte público está em greve.  

Quando a segunda escola chegou, consegui constatar o “tal do abismo”. A professora chegou com um grupo de alunos, sem uniforme, sem transporte exclusivo, pegaram um ônibus que ainda não tinha aderido à greve, isso mesmo, a professora recebeu verba do governo para pagar as passagens e trazer todos os alunos, sob sua responsabilidade, num ônibus de linha normal, não foi um transporte fretado e não existe um transporte escolar para levar os alunos até o local dos jogos!

Antes de começar o jogo, a professora da escola pública tirou fotos, deu um colete para cada aluno e começou a partida, que foi totalmente desigual, placar de 42 x 3 para a escola privada. As crianças tinham a mesma idade, estatura, todos são brasileiros, mas um imenso abismo separa esses dois mundos. De um lado um time organizado, uniformizado, com estratégia de jogo, amparado na meritocracia, sim, pois na escola do meu filho, mesmo sendo particular, se o aluno não tem notas boas, não adianta ser o melhor jogador do mundo que ele não participa do time. Do outro lado, crianças correndo atrás da bola, desmotivadas, talvez cansadas pelo deslocamento até o local da partida e totalmente desfocadas do objetivo, visivelmente sem treinamento adequado!

Perder um jogo não significa nada, mas talvez possa ilustrar o abismo do qual estou falando! Se não existe uma estrutura mínima, um treinamento adequado, como essas crianças vão competir no mercado de trabalho? Na escola dos meus filhos tem piscina, quadras, teatro, diga-se de passagem, o único teatro do norte da ilha, inspirado em viagens que o dono da escola fez pela Europa e pesquisas que realizou no Brasil. Tem laboratório de informática, aulas de inglês e espanhol, professores qualificados que são cobrados por resultados e podem ser demitidos caso não atinjam as expectativas de diretores e pais de alunos.

Talvez a derrota de hoje, reflita na derrota de amanhã, quando menos preparados para o mundo real, tarde demais, possam descobrir que não tem como voltar no tempo, que não tem como compensar os anos perdidos e o total abandono do governo frente a algo tão importante para a independência de uma Nação, investir nas crianças, no futuro, na educação!

#DespertaGigante