segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O Grande Irmão


Era para ser uma ficção.

George Orwell não tinha vocação para mãe Diná nem a menor intenção que seu livro virasse realidade. Muito menos um reality show!

Em 1984, sua obra mais famosa, criou uma sociedade vigiada pelo grande irmão. Um irmão que vê tudo, controla tudo, decide tudo.

E, como num filme barato de terror de terceira, a invenção do escritor inglês se concretizou. Uma profecia, eu diria.

Hoje, o Big Brother Global sabe quem você é, o que você faz, o que veste e o que come. Sabe, não por ter poderes adivinhativos, mas porque foi ele mesmo quem te mandou comprar batom, ouvir Michel Teló, vestir o que a mocinha da novela das oito está vestindo, beber coca cola, rir com Faustão e acreditar que Ivete Sangalo e Caetano Veloso estão no mesmo patamar artístico.

Ele também te disse:

- Assistirás toda a programação que eu te obrigar!Terás como ídolos pessoas insignificantes, meros desconhecidos que eu, a partir de agora, nomeio como celebridades. E você, obedece.

Afinal, o grande irmão sabe o que você fez no verão passado.

Ele sabe, inclusive, que você sabe que ele sabe.

E você vai ligar sua televisão no dia marcado, na hora certa e vai assistir a vida fútil de 16 estranhos. Vai torcer, vai votar, vai ficar amigo deles. Vai até chorar, em casos extremos.

Ele vai te fazer engolir a gostosona que passa o dia de biquíni, o gay que dá pinta, a barraqueira de plantão, o pobretão malhado, a piriguete que transa debaixo dos lençóis. Por pura falta de conhecimento, não posso citar nomes. Não assisto ao Big Brother. Já tentei, confesso. Não consegui.

E, mesmo que essa crônica exija mais informações sobre o assunto, me recuso a ir no Google pesquisar.

Quero continuar sem saber quem venceu o último reality show, quem posou para playboy ou quem traiu o marido/esposa em horário nobre.

Na minha vida, a big sister sou eu.

Eu decido quem são meus ídolos, eu não vou vestir o que a mocinha da novela das oito está vestindo, eu não vou assistir a novela das oito.

Eu NUNCA vou achar que Ivete Sangalo tem o mesmo valor artístico que Caetano ou Gil, não importa quantos especiais de fim de ano o Grande Irmão faça para tentar me provar isso. Eu não vou dançar a coreografia da nova macarena mundial. Eu não vou comprar batom.

Pode parecer falta de humildade, mas posso apostar que George Orwell ficaria orgulhoso de mim.

Já o grande irmão deve estar furioso e vai me deixar de castigo a qualquer momento.

Plim, plim.


Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos

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