terça-feira, 6 de agosto de 2013

As moedinhas da "viúva"... Artigo de @ToniFigo1945

Há duas semanas postei um artigo “PARA QUANDO SETEMBRO VIER...”, que transcrevia o discurso de Martin Luther King Jr na Marcha sobre Washington em Agosto de 1963, exortando os leitores a que correlacionassem ao quanto de Brasil poderíamos encontrar no hoje com aqueles Estados Unidos da América de 50 anos atrás. Quis também que pensassem nas consequências e transformações ocorridas na sociedade americana fruto daquele evento após o qual o orador foi assassinado, mas o seu sonho saiu fortalecido, renovado e realizado em grande parte. Alguns poucos, que o viram exclusivamente como Pastor, deixaram de entender o “profundo sentido político” daquela mensagem e dia e que a exortação à luta pelos Direitos Civis de Liberdade, Igualdade e Fraternidade do “negro americano” transcendia em muito a “mensagem da Salvação”. A busca era por uma aspiração real na vida terrena, pois a parte do Sermão da Montanha, que “bem aventurava os humildes, porque deles seria o Reino dos Céus” era insuficientemente incisivo para desarmar o espírito opressor que tem uma “sociedade elitista com poder”.

Pois bem. Decorrida apenas uma semana recebemos a visita do Cardeal Bergoglio, agora investido na autoridade do Papa Francisco I, que nas suas mensagens aos jovens, (de todas as idades), investiu na conscientização de todos de que a esperança da mudança deve sobrepujar a insensibilidade e corrupção políticas, que condenam aos mais desassistidos à educação desigual, à saúde incerta, ao transporte de gado, à segurança crítica e às oportunidades secundárias. Também, que as condições humanas degradantes de moradores de comunidades, como as da Varginha no Rio de Janeiro, das favelas às margens do Rodoanel de São Paulo, do Nordeste de Amaralina em Salvador, ou até mesmo do Forte Apache na sua Buenos Aires, não sejam as “certezas imutáveis” a desestimular essa busca. Mencionei aqui poucas das metrópoles, que carregam um estigma comum a todas e que fazem com que seja principalmente a juventude, que em muitas comunidades periféricas continua a pagar com a vida o “tributo do domínio” ao tráfico, quer seja como seu “operário/corpo armado”, quer seja como seus “clientes cativos”.

Qual a semelhança entre os fatos e os personagens? Não são semelhanças. É a realidade humana dos fatos, ainda que separados por meio século, vista por homens, que transcendem à materialidade do “barro humano” e nele realçam a essência residente, do que é o que de maior existe em todos nós. O “sopro Divino”. E é essa transcendência ao material, que lhes confere um “especial carisma” de enxergar o fundo das almas da Humanidade e dali extraírem seus mais recônditos segredos e aspirações, entendendo suas angústias e dando voz a sua mudez. É a capacidade de lembrar de que é “aquela essência”, que faz da fraqueza uma força avassaladora e do choro quase inaudível um canto de vitória retumbante. Muitos os dizem “eleitos”, mas isso seria negar-lhes o mérito da busca permanente pela Justiça, uma escolha pessoal dos que são sim incansáveis “pescadores de almas”, pois, ainda que religiosos são acima de tudo seres políticos na sua ação e oração, que buscam indicar que é possível o “Reino de Deus na Terra” e que até mesmo um “pensador ateu” vê essencial e é capaz de cantar:  Eu que não creio, peço a Deus por minha gente...

O grande problema de nossos dias é que uma imensa maioria das cabeças políticas com esta capacidade deixa-se dividir por diferenças religiosas, regionalistas, partidárias e ideológicas e assim o objetivo fundamental que é a “missão política” de lutar e gerar o “bem estar social humano” fica subordinado a regramentos particulares, unilaterais e discriminatórios. A “justiça social de esquerda” é melhor do que a “justiça social da direita”, ou o “neoliberalismo” é mais efetivo que o “progressismo” e deste modo o que se discute não é o “sexo dos anjos”, mas a “castidade virtual da prostituição filosófica”. É mais importante o purismo, ou melhor, o “malapurismo” intelectual do que mergulhar na “solução solidária e objetiva dos problemas”. É mais importante que se decida primeiro que a “mudança a minha maneira” prevaleça, para que se principie qualquer processo de mudança. Só o “meu Partido” salva, pois sou melhor que você e “Eu” sou o “mais ungido” que você. “Eu” sou a única solução... “Eu” é o único problema.

 A defesa de causas justas dentro da sociedade tem levado à intolerância coletiva, ao ponto de sete e meio bilhões de vizinhos cada dia mais se encastelarem nos seus privilégios ou misérias como argumento de pressão e revolução e o indissociável destino comum de toda a espécie humana, gregária a princípio como solução à sobrevivência em um ambiente hostil, a cada dia mais se deixa conduzir pelo dito bahiano, de que para a “farinha pouca, o me pirão primeiro”. Meros indicadores, a decantada Igualdade significa apenas uma palavra de ordem poderosa como jargão de protesto, a Fraternidade a indicação de um agrupamento minoritário defendendo distinção grupal exclusiva para sua “seita secreta” e a Liberdade, ora a Liberdade! É só um bem utópico comum e impossivelmente atingível, exceto para quem tem dentes e garras para defendê-la e impor. Vozes e ideias do bom senso não são ouvidas. Talvez porque lhes falte o pano de fundo do exemplo e principalmente da sinceridade, pois seu ideal de objetivo e validade não ultrapassa a data da vitória pessoal ou do seu grupo nas eleições, ou porque simplesmente não existam. Depois só restará o escárnio hipócrita jogado na cara dos “crentes”.

Faltam ao mundo moderno “construtores de nações” imbuídos do ideal de servir. Os que vemos hoje por toda parte são meros “inquilinos temporários” do Poder. O exercício do Poder foi convertido em um campo experimental de teorias sociais particulares, onde uma “grande maioria indefesa”, que eles juram defender e querer privilegiar, são suas cobaias e “escudos humanos” ideológicos. Um “ideal”, como se sabe, é constituído de ideias inovadoras, para suplantar a “habilidade humana ancestral” do medo e resistência às mudanças. Para que tudo se mantenha como sempre foi e esteja em equilíbrio dinâmico esses “novos idealistas” de ideias e ideais velhos e carcomidos ali encontram sua “zona de conforto”. Um neologismo a justificar a covardia e omissão de todos os tempos. “Forças externas” e “resistência das elites” são as desculpas “mal costuradas” de sempre. A demografia mundial expande-se mais fortemente nas camadas mais baixas da população e o desafio da inclusão está longe de ser corajosamente enfrentado, pois a riqueza produzida fica cada dia mais concentrada nas mãos de poucos. Se a classe média vem sucessivamente perdendo participação e se proletarizando e as camadas mais pobres não conseguem ser efetivamente incluídas, a conclusão é óbvia. Não é o “cala boca” dos programas assistencialistas, que promove uma real inclusão. Quando muito minimiza a “linha da miséria estomacal”.

O mal específico do Brasil é o de que há muito vivemos sob um “regime absolutista” das oligarquias partidárias, que governam segundo seus interesses coligados revezadamente, pouco satisfazendo à coletividade, que apenas se ilude com a “aparência democrática” de influir através do voto. O recente “alarido das ruas”, pacíficos ou nem tanto, para mim tem outra tradução. Esses “servidores públicos”, (categoria “contratada” para a satisfação das necessidades do povo), nos impõe seus interesses classistas e uma pesada carga tributária para mantê-los e ao seu “status” em uma espiral de desperdício crescente e insustentável para nossos bolsos e estão “todos” dizendo a eles, que não estamos mais de acordo com sua falta de “espírito público elevado”, “solidariedade cidadã” e dos “primados da justiça social” e por isso devem ser tratados como “empregados desidiosos”, (preguiçosos). 

Quem não cumpre compromissos não pode ter privilégios e salários gordos, pois não os merecem e justificam e desta maneira, que passem a “trabalhar e a ser remunerados” profissionalmente por objetivos alcançados nos Planos de Ação, com os quais de comprometeram e submetidos à nossa análise e aprovação. É assim nas empresas privadas, que o “patrão” exige e é assim que na “coisa pública” o “Povo”, patrão do Executivo, Judiciário e Legislativo quer que seja. Isonomia de direitos e deveres, já que foram lá colocados como “provedores do bem comum” conforme é assegurado pela Lei Maior e se não são competentes em fazê-lo, que sejam demitidos e substituídos. (A guisa de informação, algumas pequenas comunidades americanas têm hoje um “Gerente” - Manager e não mais um “Prefeito” - Mayor).

Os Partidos Políticos como os que temos deveriam ser registrados na Junta Comercial, onde afinal melhor se enquadram por seu “histórico comercial” e assim seriamos dispensados do custo das Verbas Partidárias e Horários Eleitorais Gratuitos, (para eles). E ainda querem nos impor o Financiamento Público de Campanha? Você investiria “um centavo” nas empresas do Eike Batista atualmente? Pois bem por que investiríamos mais esses recursos em “instituições arcaicas e falidas” desde o seu nascedouro e que não nos trazem “dividendos”? Que tentem vender comercialmente ao Povo o seu “produto” e assim poderão “competir em igualdade” com quem desenvolve um trabalho honesto e dirigido ao Mercado. Na pior das hipóteses poderíamos nos defender com base na Lei de Defesa do Consumidor. Se alguém julgar que a análise aqui feita é injusta, gostaria de contrapor com alguns argumentos: 1) A atual estrutura partidária do Brasil já completou 28 anos pós Revolução de 64, porém computado o período revolucionário conta 49 anos; 2) Todos os partidos atuais direta ou indiretamente remetem à Reforma Política de 1945, o que conta já 68 anos; 3) Muitas das lideranças ainda atuantes contam com mais de 50 anos no Poder; 4) A Coesão da “base aliada” ainda se faz pelo “cimento das emendas parlamentares” no jogo do “toma lá, dá cá”. São todos eles uma “piada parlamentar” de muito mau gosto.

Pois bem, PMDB, PSDB/PFL/DEM, PT ocuparam revezadamente a Presidência da República desde 1985 e o único “produto” entregue, relativamente à Representatividade e Sistema Político apresentado, foi a Constituição de 1988, que em relação aos pontos específicos, simplesmente repetiu o que se faz no Brasil há quase 70 anos e o pior, manteve do “lixo autoritário” do Governo Geisel, quanto a “proporcionalidade federativa”. Se em todos esses Governos, que foram majoritariamente coligados no Congresso, não se fizeram as mudanças essenciais não foi porque não tiveram a “maioria política” de conduzi-las, mas sim porque não se interessaram em mudar o atual “status quo”, que unilateralmente os beneficia em detrimento dos “direitos do eleitor”. E desde então o que vemos é um “país novo rico” perdulário e oligarca a fartar-se na “excessiva tolerância contributiva do cidadão omisso” em benefício “deles”, o que os leva a todos, indistintamente, à mesma “fossa comum”. Sucessos como o Plano Real, que foi devido muito mais ao esgotamento do modelo da “correção monetária”, onde ao final somente os banco/instituições financeira ganhavam e todos, principalmente o Governo, perdiam, bem como os atuais Programas Assistencialistas, que se expandiram graças à “bonança das commodities” no Mercado Internacional não são derivados de um planejamento metódico e consequente em prol do “cidadão contribuinte”, que somos todos em todas as camadas sociais, mas que pune em especial aqueles, que menos tem. Planos Plurianuais? Planos de Desenvolvimento do Ensino? Planos Metropolitanos? ... Continuamos a não fazê-los.

Fecho este artigo, com uma lição inesquecível para mim e que aprendi em minha primeira viagem aos USA. Ao chegar a Las Vegas para uma Convenção, o ar seco do deserto e as lentes de contato, que usava, causaram-me grande irritação nos olhos. Dirigi-me a uma farmácia para comprar um colírio, que se não me falha a memória custava US$ 4.57. Ao pagar a conta embaralhei-me com as moedas de 5 e 10 cents, (a primeira maior que a segunda) e não conseguia juntar o devido. Segurava em uma mão um “porta níqueis” comprado a propósito para a viagem com a cara apalermada. A vendedora, atenciosa e cuidadosamente, me pediu desculpas e me tomou o “porta níquel” das mãos, dele extraiu as moedas satisfatórias e do Caixa apanhou três moedinhas de um centavo de dólar como troco. Para livrar-me do embaraço pessoal do fato tentei desprezar o “change”, ao que ela me contestou: 

“NO, SIR. THESE ARE MINE”, (disse-me apontando as que estavam em suas mãos) and THESE ARE YOURS”, disse-me fechando com as suas duas mãos, a minha mão, que empalmava as três pequenas moedas. 

Isto me marcou definitivamente e me ensinou, que se o “seu dinheiro” não é respeitado e principalmente, que se você não cobra o respeito devido por ele, VOCÊ NÃO MERECERÁ e NEM RECEBERÁ RESPEITO ALGUM DE QUALQUER ESPÉCIE. Chamei ao fato: The Three Pennies Lesson. Lembre-se das “moedas da viúva” no Templo e o valor que o Mestre lhes atribuiu...

Pense comigo...

Antonio Figueiredo
@ToniFigo1945
Brasileiro, Construtivista e Ativista Federalismo Parlamentarista Unicameral c/Voto Distrital Puro.
Salvador-Bahia-Brazil

2 comentários:

  1. Prezado Toni, penso que não há mais Ideologias nem Dogmas, há cães de guerra disputando ferozmente o Poder.

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  2. Antonio
    O Jesus Artur é um privilegiado. Ter um escritor dessa magnitude não é para qualquer um..
    As moedinhas aqui neste texto, viraram arcoiris .
    Parabéns por nos brindar com mais essa bela e esclarecedora crônica.
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

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