segunda-feira, 29 de julho de 2013

É a vontade de Deus - Artigo de @ToniFigo1945

Desde a mais tenra infância fui ensinado a rezar e a depositar em Deus todas as minhas aflições e esperanças por minha avó, uma transmontana católica, que fez da sua fé na religião sua sustentação, resignação rebelde, esperança e fonte de energia e luta, pois em sua terra natal de então, os homens e a natureza desde muito cedo a ensinaram, que só Deus poderia prover-lhe ânimo para enfrentar uma vida de tantas privações. Afinal é na fé cega na religião, que os miseráveis de todo o mundo sempre buscaram conforto e apoio, para sua improvável felicidade e abundância terrenas e por isso contou-me muitas vezes da luta árdua nos campos de terras pedregosas muito pobres, que sustentava uma multidão de conterrâneos no absolutamente essencial, sem sobras ou fartura, bem como da aridez branca desses mesmos campos cobertos de neve e matilhas de lobos famintos que por eles erravam, o que provocava uma “hibernação doméstica” forçada para a manutenção da segurança vital e a nutri-los parcas e contadas batatas e cebolas guardadas desde o verão. Vida dura de privações, que a levaram e a muitos europeus a imigrar para o Brasil, para aqui “fazer a América”, como então se dizia.

No Brasil maravilhou-a constatar a possibilidade de ter sua horta o ano inteiro a enriquecer sua mesa pela fartura e bondade de um solo fértil, ainda que fosse com os “campos” do pequeno quintal da sua casa e a inexistência do “inverno branco” e dos perigos da solidão gelada de homens e animais famintos lutando pela sobrevivência. Todavia, o que mais a encantava era poder louvar diariamente na igreja próxima de casa ao “Deus Brasileiro” muito mais generoso, que seu “homônimo de Portugal” residente na igrejinha da Freguesia longínqua, que a obrigava a andar muitas léguas todos os domingos. As durezas da vida de servente a que a condenava o seu analfabetismo, por ter que se levantar às três horas da madrugada para tomar o primeiro bonde e retornar ao lar somente após as nove horas da noite, não quebrantavam sua fé e ânimo, pois a mesa a via farta e ao pobre, afinal, nunca nada mais correspondeu, que trabalhar, comer, procriar e dormir em moto contínuo, só interrompido pela doença ou pela morte. Não se queixava de um Brasil injusto então, pois a oportunidade de trabalho e a sobrevivência distanciada da miséria já era uma paga justa. É a vontade de Deus, conformava-se.

Foi essa luta pessoal inconformista a rebelar-se contra o “sermão do cura” da Freguesia, sobre o fatalismo da miserabilidade para a maioria da raça humana, que lutou para mudar e que lhe deu forças para superar uma viuvez precoce e criar os filhos com dignidade em uma “época machista”. Essa altivez revolucionária era contra um “fatalismo humano” e jamais determinado pela vontade de Deus. Traço aqui um paralelo com as migrações internas nordestinas rumo ao Leste/Sul do Brasil, (década de 50 do sec. XX) acontecidas bem mais tarde, porém oriundas dessa mesma influência e determinismo, o que retardou por aqui a libertação desse “conformismo”, ditado pelo fato de que religião e coronéis “ditavam” as leis e “criavam” os dogmas. A cada “nova seca” e uma nova perda de seus parcos recursos e roças, não tão distantes das margens dos açudes situados nas terras dos “coronéis”, senhores da vida e da água que a todos era destinada, conformavam-se “transmontanamente”, ou melhor, “caatingamente” com a “vontade divina”.

Não me lembro de jamais ter testemunhado manifestações de imigrantes ou migrantes contra a situação degradante de sua condição de vida nas ruas das metrópoles, mas tão somente o fruto de muito trabalho e persistência, que se traduziu no progresso das cidades e nas melhores condições de educação e profissionais que conseguiram com seu esforço transferir a seus filhos. Foram estes que adultos conseguindo uma “condição média” de vida passaram a lutar por suas conquistas, para não serem rebaixados às condições em que viveram seus pais. Foi o desenvolvimento e ascensão econômica individual, que conscientizou a esses cidadãos e que por fim os levou a se conscientizar politicamente para defender seus direitos e criar uma “paliçada” de proteção política junto a políticos confiáveis. Como substituíram a fé na religião, pela “fé política”, ainda assim continuaram à mercê de um “pai provedor” e foi aí que estabeleceram a sua crença nos muitos “pais dos pobres” da nossa História, traduzidos em Getúlio, Jânio e mais recentemente Lula.

Aquelas gerações de migrantes e imigrantes não foram às ruas e nem irá organizadamente a “grande massa” de hoje. As horas de trabalho árduo somadas com as perdidas no trânsito urbano entre o trabalho e

a residência consomem-lhes de 14 a 15 horas diárias, além de toda sua energia. Sempre foi assim e sempre será e por isso suas vozes permanecerão inaudíveis “peregrinas da esperança”. Para que isso mudasse, dependeria de uma “organização de base”, que hoje e sempre foi controlada por Sindicatos pelegos, que também enrouqueceram como demonstrou a última tentativa de mobilização das Centrais Sindicais. Uma organização que deveria ser classista foi convertida convenientemente pelos Governos desde Vargas em uma “voz política para-oficial” a suportar os “pais dos operários” no Poder e que por essa razão já foram um dia de orientação fascista, (Vargas), populista, (Jânio) e aparentemente comunista sob Lula. No Brasil os sindicatos de “inspiração comunista” também chegaram atrasados. O Muro de Berlim já havia caído e a ideologia comunista jazia demolida no meio dos escombros.

O mais novo “dogma oficial” chama-se Reforma Política, querendo fazer a “cabeça do povo” dentro do sistema que ele Governo quer fazer valer, pois não existe fator mais socialmente explosivo do que movimentos grevistas, que via de regra são pródigos em violência e agitação. Onde falta a “força dos argumentos” fruto da consciência política, prevalece a “força da ação”, provocada pelas necessidades essenciais insatisfeitas e principalmente o “vandalismo de resultados”. Tenho inclusive chamado aqueles direitos essenciais de “compromissos constitucionais”, uma justa salvaguarda da parte do legislador com aqueles que são incapazes de se fazer ouvir, porque não tem como dizê-lo. Longe vai o tempo em que o cidadão organizava-se espontaneamente em comunidades de bairros, ligas de futebol e esportes amadores, associações laicas ou religiosas, esportivas ou culturais, de benemerência ou de pensamento onde o “interesse comum” era discutido e acabavam por se consolidar em células básicas de diálogo e organização política.

Para ser verdadeiro com os acontecimentos históricos, o único período em que se tentou trabalhar a conscientização política no Brasil ocorreu durante os Governos Militares com a introdução da cadeira de “Estudos de Problemas Brasileiros” em todos os graus e modalidades de ensino, (DECRETO LEI Nº 869 – 12/setembro/1969), ao qual me submeti em meus anos de faculdade e que posso garantir não ter sofrido qualquer “lavagem cerebral”. Nos quatro anos de universidade jamais ouvi análises comparativas tendenciosas e ou de qualquer tipo entre regimes de governo. Com o advento da Nova República, tudo que remetia ao período da Revolução, foi considerado “lixo autoritário” e a “educação moral e cívica” passou a ser considerada “ideologizantemente retrógrada” e com isso uma vez mais se adiou preparar o futuro político da Nação. Talvez porque os então “novos políticos” fossem os mesmos “velhos políticos”, que motivaram o Golpe Militar. Não podemos nos esquecer de que um dos seus motivos foram as práticas corruptas de negociatas vigentes no Congresso em 1963/4. Hoje com a Reforma Política em pauta, querem que a população responda sobre temas como o voto distrital, financiamento de campanhas, voto majoritário e proporcional e outros temas correlatos. Baseada no que fará o povo essas opções?

Mas não é somente o “populacho”, que necessita mais esclarecimentos sobre do que trata uma efetiva Reforma Política. As classes mais baixas desde sempre se manifestaram e se manifestam pelo “voto plebiscitário” e mesmo assim muitas vezes pelas evidentes melhorias, que percebem. Foi assim com o Plano Real de FHC e é assim com Programas Sociais DILMA/LULA. A “classe média” sempre vota pela manutenção da estabilidade do seu “status”, ou para que o mesmo não se deteriore. O maior conselheiro da grande maioria dos eleitores brasileiros é o “bolso” e é esse “condicionamento”, que precisa ser rompido para que um verdadeiro “espírito de nacionalidade e cidadania solidária” exista. Somos uma Nação muito nova e promissora, porque somos detentores de muitos recursos, para nos deixarmos pautar pelo medo. A covardia sempre foi uma conselheira exclusiva do “egoísmo”.

Nações jovens, como as crianças, necessitam de se “educar politicamente” desde o pré até o doutorado, através do conhecimento dos seus valores nacionais e principalmente da sua “história real” desmistificada, assumindo seus erros de formação e enaltecendo os valores reais da cidadania de seus “verdadeiros pais da pátria”. Algum deve ter havido e essa verdade tem que estar evidente. E principalmente, organizar-se como uma Nação, que é o tudo, que nos falta. A vontade de Deus concedeu-nos o “livre arbítrio” e disso estabeleceu-se nossa a responsabilidade. Até hoje se fez a vontade do povo. Um povo desorganizado e

omisso e temos o que temos e o que até hoje merecemos. A quem cabe a responsabilidade em compartilhar conhecimento e cidadania? Ao Governo?

Pense comigo...

Antonio Figueiredo
@ToniFigo1945
Brasileiro, Construtivista e Ativista Federalismo Parlamentarista Unicameral c/Voto Distrital Puro.
Salvador-Bahia-Brazil

6 comentários:

  1. O problema é que não sei até que ponto o povo quer esta cidadania, já que ela traz também responsabilidade e deveres...

    ResponderExcluir
  2. Desde 1500 governo após governo vêm acostumando brasileiros a dependerem de esmolas públicas e quando o país cresce um tiquinho, os mesmos governos assumem a paternidade do tal crescimento. Os europeus e japoneses vieram fugindo da fome, das guerras e da miséria eterna. Ajudaram a fazer desse país um gigante progressivo (não confundir com progressista, palavra corrompida pelos vermelhinhos). Volta e meia aparecia um patriota de fato e não de discurso, como, por exemplo, o Brigadeiro Montenegro, Ozires Silva e muitos, embora poucos, que estudaram, se sacrificaram e trabalharam arduamente para colocarem o Brasil nos cenário mundial. Fora os outros tantos da iniciativa privada, alguns deles com origens em famílias pobres, como Antônio Ermírio, Roberto Campos, Santos Dumont,Vital Brasil, Landell de Moura, Carlos Chagas, ... E os governos arrebanhando os louros. Perdemos a noção de grandes brasileiros, politiquinhos, celebriades e pseudocelebridades passaram a ser exemplo, o assistencialismo venceu, o coitadismo e o vitimismo tornaram-se aspiração popular e não exceção.

    ResponderExcluir
  3. Me deu um desânimo agora...

    Qdo penso que o Brasil precisaria ser reinventado,após a "limpeza" dos partidos políticos socialistas de araque que imperam aqui,onde já começam a privilegiar professores esquerdistas que já procuram entortar a cabeça dos alunos com informações mentirosas,quase criminosas!
    Limpeza também deveria ser feita nas Estatais que estão todas repletas de "Cumpanhêros",que tratam de manter o status quo a todo custo...

    Qta coisa a fazer para por nosso país nos trilhos de novo! É por isso que me dá um desânimo...

    Começar por onde? Sei. Pelo voto certo.Mas como colocar nas cabecinhas dos acomodados que existe um mundo verdadeiro,onde podemos exercer nossa cidadania,sem ficarmos esperando por "Bolsa-Vale-Tudo?

    Aff!não é fácil ser brasileiro!
    Zinha Bergamin

    ResponderExcluir
  4. Prezado Toni,
    seu artigo é uma profunda reflexão sobre os valores de uma sociedade e de uma nação, e nos faz lembrar que até pouco tempo tínhamos uma educação completa, ou seja, os valores morais transmitidos no seio familiar fortemente baseado na Fé, a educação do Estado que tambem nos dizia dos valores civis, a Educação Moral e Cívica e posteriormente OSPB (Organização Social e Politica Brasileira) nos dava as dimensões de Cidadão. Hoje a revolução cultural Gramscista, tem nos levado todos estes valores e cabe nós Cidadãos preservarmos nossa sociedade e nos livrarmos dos lobos das estepes.

    ResponderExcluir
  5. Antônio
    Assim como você também fui ensinado a rezar e a depositar em Deus todas as aflições e angustias.
    Fui criado e educado aprendendo a obedecer, respeitar, e servir. Esse era o ambiente familiar em toda comunidade que era cooperativa, prestativa, e em sua maioria trabalhava nas Indústrias do bairro Garcia (Blumenau), a Empresa Industrial Garcia, Artex, e Souza Cruz.
    Um jovem ao ingressar em uma empresa deveria ter todas as qualidades citadas, de preferência deveriam ser alienados nos processos políticos, religiosos, e da realidade do mundo. Criava-se a mentalidade de servos e quem fosse despedido ou recebesse carta branca (nome dado a quem fosse demitido), era considerado pela comunidade mau caráter, elemento vagabundo, pessoa por vezes não grata.

    O tempo passava e percebi que os dados mencionados no início não eram bem assim, o próprio sistema organizacional divergia de ideias melhores para o bom desenvolvimento interno nas empresas.
    Constatei que nem sempre aqueles que conseguiam uma posição melhor profissionalmente eram os mais capazes, os mais qualificados ou inteligentes, mas sim em muitos casos os pelegos e alienados da vida cotidiana e que viviam prejudicando os colegas de serviço e atropelando seu semelhante.
    Nos testes de promoções, vários concorriam, mas nem sempre o melhor era promovido, já existia o candidato preferencial, apenas dava-se oportunidade aos demais para que o mesmo participando, pensasse que era inferior ao vencedor. Como trabalhava em recursos humanos, tinha acesso a esse tipo de irregularidades, que não era surpresa para muitos funcionários, que desconfiavam e comentavam essa prática enganosa.

    Em algum momento fui considerado líder negativo, por ter pensamentos sociais diferentes do empregador, e que não vestia a camisa claro que isso não é verdade, pois em 25 anos de empresa, muito colaborei e fui correto com meus superiores. Os anos iam se passando e cada vez mais me decepcionando, mas com esperanças.
    Nunca recebi um elogio pelos serviços prestados á empresa e olha que elogio é de graça, mesmo nas adversidades da empresa onde ajudei a colaborar nas enxurradas e incêndios.....e assim vai depois fui lecionar e me senti muito bem, apesar da desvalorização da categoria.
    O momento que estamos vivenciando nas questões políticas, corrupção desenfreada, e um “aparente comando” dos que estão a margem da sociedade, devem servir como um alerta para aquilo que todos almejam, um futuro melhor.
    Quando a força do bem prevalecer, uma sociedade mais politizada, teremos então um bom governo, pois será dessa sociedade, que escolheremos nossos representantes. O governo sempre é o reflexo da sociedade.

    Só pensamos na mudança, depois que acontecem os problemas, quando o correto seria a prevenção, um planejamento para evitar a convulsão social que pode chegar ao caos. É só observar o problema histórico na educação, e os sistemas penitenciários.
    Adalberto Day
    Cientista Social e pesquisador



    ResponderExcluir
  6. Antônio
    Assim como você também fui ensinado a rezar e a depositar em Deus todas as aflições e angustias.
    Fui criado e educado aprendendo a obedecer, respeitar, e servir. Esse era o ambiente familiar em toda comunidade que era cooperativa, prestativa, e em sua maioria trabalhava nas Indústrias do bairro Garcia (Blumenau), a Empresa Industrial Garcia, Artex, e Souza Cruz.
    Um jovem ao ingressar em uma empresa deveria ter todas as qualidades citadas, de preferência deveriam ser alienados nos processos políticos, religiosos, e da realidade do mundo. Criava-se a mentalidade de servos e quem fosse despedido ou recebesse carta branca (nome dado a quem fosse demitido), era considerado pela comunidade mau caráter, elemento vagabundo, pessoa por vezes não grata.

    O tempo passava e percebi que os dados mencionados no início não eram bem assim, o próprio sistema organizacional divergia de ideias melhores para o bom desenvolvimento interno nas empresas.
    Constatei que nem sempre aqueles que conseguiam uma posição melhor profissionalmente eram os mais capazes, os mais qualificados ou inteligentes, mas sim em muitos casos os pelegos e alienados da vida cotidiana e que viviam prejudicando os colegas de serviço e atropelando seu semelhante.
    Nos testes de promoções, vários concorriam, mas nem sempre o melhor era promovido, já existia o candidato preferencial, apenas dava-se oportunidade aos demais para que o mesmo participando, pensasse que era inferior ao vencedor. Como trabalhava em recursos humanos, tinha acesso a esse tipo de irregularidades, que não era surpresa para muitos funcionários, que desconfiavam e comentavam essa prática enganosa.

    Em algum momento fui considerado líder negativo, por ter pensamentos sociais diferentes do empregador, e que não vestia a camisa claro que isso não é verdade, pois em 25 anos de empresa, muito colaborei e fui correto com meus superiores. Os anos iam se passando e cada vez mais me decepcionando, mas com esperanças.
    Nunca recebi um elogio pelos serviços prestados á empresa e olha que elogio é de graça, mesmo nas adversidades da empresa onde ajudei a colaborar nas enxurradas e incêndios.....e assim vai depois fui lecionar e me senti muito bem, apesar da desvalorização da categoria.
    O momento que estamos vivenciando nas questões políticas, corrupção desenfreada, e um “aparente comando” dos que estão a margem da sociedade, devem servir como um alerta para aquilo que todos almejam, um futuro melhor.
    Quando a força do bem prevalecer, uma sociedade mais politizada, teremos então um bom governo, pois será dessa sociedade, que escolheremos nossos representantes. O governo sempre é o reflexo da sociedade.

    Só pensamos na mudança, depois que acontecem os problemas, quando o correto seria a prevenção, um planejamento para evitar a convulsão social que pode chegar ao caos. É só observar o problema histórico na educação, e os sistemas penitenciários.
    Adalberto Day
    Cientista Social e pesquisador


    ResponderExcluir