quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Caráter Nacional ... Artigo de @ToniFigo1945

In memoriam ao nosso solzinho” Edna @opcao_zili, que levou um pedacinho de cada um de nós e nos deixou seu sonho brasileiro a realizar.

Lá pelos idos anos 50 do século passado a presença da criança nas “salas de visitas” era pouco frequente, a não ser, quando visitantes de “primeira sentada” naqueles sofás cheirando a novos, pois recebiam muito poucos traseiros, a prole era de “apresentação obrigatória”. Este acontecimento sempre era uma oportunidade única aos “piralhos” de exibirem seus “dons” e aptidão para enfrentar o futuro, então uma perspectiva “muito distante”. Minha irmã caçula, então no berço e minha outra irmã, a “fadinha de cachinhos dourados” com direito a um “xuca-xuca”, sentada no colo do meu pai, não participavam ainda dacompetição”. Esse “páreo” só era corrido por meu irmão e eu e com um “handicap” totalmente favorável.  Bem, ele além de ser o primogênito, ainda herdara o nome do avô paterno. Ele era o “Neto” e, portanto o primeiro na linha sucessóriaJá eu, o segundo, tinha que ser “saliente”, para ser notado, o que sempre conseguia e invariavelmente vinha a pergunta, antes de ser tocado da sala para que começassem as conversas de adultos: O que você vai querer ser quando crescer? Como toda criança respondia com pelo menos quatro grandes certezas, sem deixar de mencionar a outra meia dúzia de convicções sentadas no “banco de reservas”.

Tem um futuro promissor, diziam alguns. Tem grandes qualidades, arrematavam outros. Eu e o Brasil despontávamos como “grandes promessas” e o que eu ouvia há 60 anos, já se ouvia do Brasil há mais de um século e foi atrás dos porquês da não transformação de promessas em realidade, que fui buscar na História algumas referências. Neste final de semana assisti a dois programas, que o “acaso”, (para quem acredita), apresentou e que foram muito elucidativos. Um foi na Globo News - PAINEL, de sábado à noite, que discutia a atual crise política brasileira apresentado pelo jornalista William Waack, tendo como convidadosBolívar Lamounier,Roberto da Matta Fernando Schuler do IBMEC. Por consenso discutiu-se as atuais carências como sendo de Crise de Autoridade, Perda de Valores e Limites da Democracia Liberal e uma Crise de Convicções. Contudo, para mim a mais importante delas e que foi mencionada muito ligeiramente pelo condutor é a Crise do Caráter Nacional. Qual o “dogma nacional”, que diz o papel do Brasil no Mundo Moderno e seu protagonismo.

Aqui me lembrei da influência do Iluminismo que atiçou a “chama da liberdade” com a Revolução Americana, mas que acabou por incendiar a Revolução Francesa e a importância do postulado comum: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, um propósito interno, mas que serviu para moldar a apresentação ao mundo de então de que ideias prevaleceriam nas ações internas e internacionais desses países. Lembrei-me também da Alemanha Nazista, que na busca de um projeto hegemônico tornou-se uma potência tecnológica em Energia Nuclear, Astronáutica, Equipamento Bélico, Ótica e Siderurgia. E da Alemanha Moderna, que mesmo com um custo de 1,3 trilhões de Euros no seu processo de Reunificação, pós Muro de Berlim, ainda se mantém como a Economia mais estável e basilar da Comunidade Econômica Europeia e também da antiga União Soviética, com seu postulado de um “regime comunista”. Difícil imaginar o poderio dessa Alemanha nos dias atuais, não fosse o erro de Hitler, quanto à imposição do Arianismo, se tivesse usado todo o “potencial racial” alemão harmonicamente. Hitler não conseguia enxergar além do seu tempo e ambições.

O outro programa foi no History, que versava sobre os 40 dias de Jesus na terra após a ressurreição, mas que abordava a importância da adoção por Constantino do simbolismo da Cruz na batalha de Ponte Milvia contra Maxêncio em Outubro de 312 pela Reunificação do Império Romano, (324 D.C.)Após esse evento o Cristianismo deixou não só de ser perseguido, como se tornou a “religião do estado” e para isso Constantino fez convocar o Concílio de Nicea, (325 D.C.) e nesse evento criou-se o CREDO, não só a uma “profissão de fé”, mas principalmente um princípio basilar imperial na condução do seu Império. Aqui no Brasil este tipo de decisão estratégica foi adotado única e exclusivamente em duas oportunidades e isso é muito fácil se perceber historicamente. A Independência foi claramente um ato de “dividir mantendo unido”, pois a recomendação de Dom João VI na sua partida foi muito clara: ”Antes que um aventureiro...” e isso implicava na manutenção do Reino Unido de Portugal e Algarve a todo custo. O problema foi a rebeldia do Parlamento Brasileiro de 1826 a 1831 contra o autoritarismo de Dom Pedro I e a usurpação do trono português por Dom Miguel em 1828.
No Segundo Império tivemos pela personalidade de Dom Pedro II e sua admiração incondicional ao processo de desenvolvimento americano a primeira tentativa de desenvolver um caráter nacional, através das muitas iniciativas de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, de copiar aquele modelo, mas estrutura feudal política e militar baseada nos “donos da terra” e principalmente pela posição “anti-escravagista” do Imperador minou esses esforços e levou à Proclamação da República sob a inspiração do Positivismo, semque o Brasil tivesse aprendido as lições históricas do Iluminismo. Tanto a República Velha e sua subsequente foram carentes de medidas nesse sentido e somente durante o Governo Vargas o Brasil construiu sua primeira siderúrgica, (CSN-1946), mas somente operacional no Governo Dutra e as iniciativas mais contundentes foram dadas por Juscelino Kubitscheck nos seus “50 anos em 5”, com a introdução da Indústria Automobilística . Willys Overland do Brasil iniciou a fabricação do Jeep com componentes nacionais em 1957 e com o motor nacional em 1959 e o Dauphine a partir de 1959. A DKW VEMAG iniciou a fabricação da VEMAGUETE em 1959. A FORD lançou em 1957 sua linha de caminhões e caminhonetes, assim como a GENERAL MOTORS em 1958. Volkswagen ainda que começada a instalar-se em 1953 no Governo Vargas só tornou-se uma efetivamente industrial já nos Governos Militares (1967).

Coube, entretanto aos Governos Militares de 1964 a 1985 dar o passo mais largo nesse sentido, tratando como um todo a carência infraestrutural do Brasil e objetivando um “projeto hegemônico regional” na América Latina e nesse sentido desenhar efetivamente o primeiro “plano de caráter nacional”. Aatuações diversificaram-se com as políticas de: extinção da SUMOC e sua conversão no CMN, (Conselho Monetário Nacional); Substituição de Importações, que fez da indústria brasileira uma das mais diversificadas do Mundo; o Programa do FGTS e BNH como garantia efetiva dos direitos do trabalhador e base do Programa da Casa Própriao MOBRAL e ampliação do Ensino Universitário; o Programa Nuclear, o Parque Industrial de Armamentos; o Regime Hidrelétrico Brasileiro, inclusive com objetivo da Segurança Nacional; PortosAeroportos; Ferrovias e Rodovias, Projeto RADAM responsável pelas novas províncias minerais, PROALCOOL, a liderança mundial na utilização de combustíveis renováveis, em face da Crise do Petróleo de 1973a agregação de 4,4 milhões de km2 pela Extensão dos Direitos Exclusivos de Exploração do Mar em até 200 milhas náuticas e onde se encontram as principais províncias petrolíferas e o Pré-Sal, a abertura das novas fronteiras agrícolas de Mato Grosso e Cerrado Minas Gerais, (Projeto Jaíba). Isso sem mencionar a Ferrovia do Aço, Ponte Rio Niterói, Mineroduto BH/Vitória-ES.

Foi o maior processo transformador infraestrutural de todos os tempos do Brasil e ainda que isto venha a provocar “brotoejas” em muita gente, esse foi o ”lado bom” da Revolução de 64, pois aos Generais Presidentes nunca se questionou: o nacionalismo; a honestidade e o patriotismo e a rigor creio, que para um planejamento tão complexo as origens e preparação desse movimento seja muito anterior a isso, pois foi uma obra digna da “melhor engenharia militar”. Esse “projeto de nação” foi construído e embasado em uma Divida Externa de US$ 230 bilhões e dentre todos os países que se endividaram nesse período foi a única a se justificar em realizações. As dívidas de Argentina e México sempre foram suspeitas de enormes desvios. Isto é fato. Isto é História.

A partir da Nova República mais nada se fez nessa direção e todo esse projeto entrou em colapso no ano de 2002 com o “apagão elétrico” no Governo FHC e o Brasil seguiu descuidando da sua infraestrutura, pois as grandes iniciativas foram exclusivamente no sentido da organização interna, (Plano Real, Lei de Responsabilidade Fiscal, Privatizações e Agências Reguladoras), no Governo Fernando Henrique e o Resgate da Miséria e a Redistribuição de Renda nos Governos do PT, o que o impediu e impede de competir em igualdade nos Mercados Globais. Tampouco o país se integrou aos Blocos Econômicos Globalizados e nem fez avançar os Acordos do MERCOSUL e assim parece atualmente que a única aspiração global do Brasil seja uma Cadeira Permanente no Conselho de Segurança da ONU. Na política interna discute-se o Controle da Mídia e a Comissão da Verdade, como se fossem essenciais aos ONP (Objetivos Nacionais Permanentes). Ao olhar com meus “olhos de 1964” afirmo: Choro pelos muitos “heróis do ideal”, que morreram por suas “verdades convictas”, mas não pelos sobreviventes “mercadores de contos” de quem somos reféns nos dias de hoje. São muito poucos em número e sinceridade para fazer 200 milhões de reféns na sua “luta privada”.

Uma afirmação do antropólogo Roberto da Matta chamou minha atenção naquele programa: Na Assembleia Nacional Constituinte em 1988 o Congresso Nacional contava com pelo menos 10 a 20“lideranças nacionais” relevantes e hoje não se consegue apontar cinco nomes”. Pois bem, não existem no Brasil de 2013 líderes e projetos para mudar essa realidade brasileira. É só cotizar os nomes que se apresentam e os que podem vir a se apresentar, bem como os Partidos existentes e os em organização para as Eleições de 2014 com o tamanho do desafio, para constatarmos isso. Um Governo de Coalizão entre PT, PMDB e PSDB é um “sonho impossível”. Nem eles o fariam e tampouco o Brasil merece essa consideração deles. Assim, se quisermos um “Brasil Novo”, temos nós Eleitores, que começar a forçá-los a mudar, para que em 2022 tenhamos lideranças e partidos políticos representativos. Senão..., não sei! Certamente não gostaria de estar aqui para ver, principalmente porque aos 80 anos, morre-se sem poder lutar, além de ver os filhos, netos, bisnetos e amigos morrendo sem nada poder fazer com nosso “espírito revolucionário aposentado”.

Pense comigo ...

Antonio Figueiredo
@ToniFigo1945
Brasileiro, Construtivista e Ativista Federalismo Parlamentarista Unicameral c/Voto Distrital Puro.
Salvador-Bahia-Brazil

3 comentários:

  1. Um Governo de Coalizão entre PT, PMDB e PSDB é um “sonho impossível”.

    A sociedade precede aos governos e aos partidos. E é por isso a falta de um "caráter nacional". Somos um país de projetos de "lados", consequência de sermos uma sociedade de lados. Mas estamos dando alguns passos no sentido de formar esse caráter.

    A exacerbação de polaridades que se avizinha trará como resultado, com certeza (penso), a necessidade de uma identidade nacional, acima de ideologias partidárias.

    Não devemos querer um governo de coalizão. Seja com quais partidos forem. Devemos construir, antes, a coalizão da sociedade em torno de objetivos comuns. Isso sim parece estar distante...

    abs

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  2. Que aula de história,hein amigo? M-a-r-a-v-i-l-h-a!
    Amei! E achei tocante a parte em que diz:

    "Ao olhar com meus “olhos de 1964” afirmo: Choro pelos muitos “heróis do ideal”, que morreram por suas “verdades convictas”, mas não pelos sobreviventes “mercadores de contos” de quem somos reféns nos dias de hoje. São muito poucos em número e sinceridade para fazer 200 milhões de reféns na sua “luta privada”.

    É,meu amigo!Vc está carregado de razão.Mas eu tenho esperança,sabe? E temos que ter,porque senão...é melhor morrer...

    Mas somos fortes! Vamos conseguir!

    Gde bj a vc!
    Zinha

    PS-(Copiarei seu magnífico texto para espalhar entre parentes e amigos.Posso?)

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